"A arte de perder
não é nenhum mistério. Depois perca mais rápido, com mais critério: Lugares,
nomes, a escala subsequente da viagem não feita. Nada disso é sério
(...)." (Elisabeth Bishop).
Flores raras é um
filme tocante que aborda diferentes temáticas de forma singela. O filme começa
com poemas falando sobre perda... Perda, talvez um dos maiores medos do homem.
Elizabeth Bishop no
filme fala da ‘cura geográfica’, dessa necessidade de viajarmos, de conhecermos
realidades diferentes, de termos impressões que variam e mudam dependendo de
quem olha e do conhecimento de vida de cada pessoa.
Para Bishop o Rio de
Janeiro é uma mistura de Cidade do México e Miami. Esse olhar estrangeiro
muitas vezes pode levar a subestimar o conhecimento do diferente, como o faz a
poeta americana com o Lacerda e a Lota, ela pensa que eles não saberiam os
poemas dela e acaba ficando envergonhada e constrangida por isto.
Este trabalho
cinematográfico como muitos outros traz à tona momentos sobre a ditadura, uma
época difícil no Brasil e na América Latina toda, embora menos drástica no
Brasil, tanto que, muitos latinoamericanos encontravam no país um lugar para o
asilo político, mesmo assim, esta época ficou marcante no inconsciente coletivo
da população brasileira.
Relações entre
pessoas, mesmo no amor, podem vir acompanhadas de egoísmo, sentimento humano,
que não é diferente nos relacionamentos da Lota. Nesta passagem fílmica, além
do egoísmo, podemos ver outro aspecto não menos importante, o relacionamento
entre pessoas de culturas (países) diferentes e, como isto difere de um
relacionamento entre pessoas de uma mesma cultura, ideologia, religião etc.
A Lota em seu intuito
de agradar o seu mais novo amor constrói um cantinho para Bishop, um lugar que
acredita será inspirador e, assim é, vemos no filme como esse belo lugar
inspira a moça americana; vemos como se dá a sua produção criativa.
O instinto materno
também aparece no filme, com a Mary, a primeira amante da Lota, e sua
necessidade de ser mãe, que é suprida com a adoção da criança de uma mãe que
‘vende’ a sua filha por uns quantos tostões. O instinto materno é inerente às
mulheres, embora algumas neguem essa teoria, mas a maioria delas vê na
maternidade uma realização, talvez a maior, inclusive aquelas que se sentem
atraídas por outras.
O filme, trabalho do
diretor Bruno Barreto, é realmente bom e está bem feito, soube contar a traves
deste cuidadoso trabalho a história destas duas mulheres, a poeta americana
Elizabeth Bishop e a arquiteta Lota Macedo de Soares. O trabalho da Miranda
Otto e da Tracy Middendorf é muito bom, mas não posso negar que a Gloria Pires
mais uma vez arrasou na atuação.
Víctor Gonzales
Flores Raras
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